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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Comunicação alternativa substitui uso da linguagem oral




Jornal da AME
22/10/2003
Prancha utilizada nos sistemas Bliss e PCS é instrumento de estímulo e apoio para expressão
SÃO PAULO/SP - "Quem não se comunica se trombica" já dizia o velho Chacrinha. De fato, na humanidade, a comunicação é o meio pelo qual as pessoas tentam se fazer entender, expressar seus desejos e sentimentos. Há a comunicação convencional, pela oralidade, em que a fala é importante instrumento de convivência social e há os sistemas alternativos, utilizados como uma forma universal de comunicação a quem possui dificuldade ou impossibilidade de usar a voz para se expressar.
Há várias alternativas de comunicação, entre as quais os textos em braile e os sistemas Bliss e PCS (Picture Communication Symbols), ambos utilizados por pessoas que apresentam seqüelas ou comprometimento motor decorrentes da paralisia cerebral e outras deficiências neuromotoras, tendo a cognição, ou capacidade de compreensão e aprendizado, preservada.
Em se tratando de sistemas alternativos e suplementares de comunicação, a Associação Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especial é referência no Brasil, sendo responsável pela implantação, no país, do sistema Bliss (comunicação através de símbolos) e o PCS (comunicação através de desenhos).
Criado por Charles Bliss, cidadão suíço naturalizado canadense, o Bliss foi aplicado no Brasil a partir de 1978, em pessoas impossibilitadas da fala ou de qualquer movimento coordenado. Foi inspirado na matemática, especificamente nas idéias do filósofo Leibniz e também na pictografia chinesa. Reúne nove formas básicas, a partir das quais se desenham todos os sinais.
O PCS, por sua vez, surgiu um pouco depois. Foi desenvolvido por Roxane Mayer Johnson, em 1981, nos Estados Unidos. Agrupa sinais que, em sua maioria, se caracterizam por desenhos lineares e pictográficos. Permite a inclusão de fotos, figuras, palavras escritas ou a combinação destas. Ambos utilizam pranchas como estrutura. As cores, no Bliss e no PCS, diferenciam e separam as palavras em verbos, substantivos, preposições, etc. Por exemplo, verde significa verbo; amarelo, pessoas; laranja, substantivo e azul, adjetivo.
A Quero-Quero também foi pioneira, no Brasil, na utilização de computadores. Primeiramente para facilitar a comunicação das pessoas com comprometimento motor severo e, depois, como auxiliar pedagógico e nas terapias. Segundo o coordenador clínico da entidade, o psicólogo Elio Medeiro Punski, a tecnologia da informática é um aliado da comunicação, pois pode atender a todas as deficiências ou patologias de pessoas que tem comprometimento da comunicação oral.
Elio lembra que as pessoas que nasceram com alguma lesão neurológica precisam ter condição cognitiva preservada para introjetar os símbolos e figuras. "É como uma criança que aprende a falar e aprende a expressar pensamentos e sentimentos", explica. Quem utiliza o Bliss ou PCS para se comunicar, a prancha de comunicação passa a fazer parte do cotidiano da pessoa e quem convive com a pessoa se familiariza com o uso de tal instrumento.
Ele destaca que esses sistemas são uma forma universal de comunicação e facilitam a inclusão da pessoa na sociedade, embora não seja um sistema muito difundido. "Com a prancha, a pessoa pode apontar com o dedo ou o olhar o que gostaria de dizer com palavras. É preciso que as pessoas respeitem o tempo do outro, a fala do outro, não importa o meio que ele utilize para se comunicar", afirma.
Na prática, funciona assim: para uma pessoa com impossibilidade de comunicação convencional ir a um restaurante, por exemplo, pode-se criar um cardápio personalizado com suas opções preferidas de comida e bebida. Esse cardápio pode ser levado a qualquer restaurante. As opções são apontadas pela pessoa com o dedo ou o olhar e seu desejo compreendido, pois todos os símbolos têm legenda explicativa em português. Na versão eletrônica, há uma tecla para cada opção, a qual é digitada e há emissão de um som que verbaliza a opção. Pode-se criar pranchas de acordo com seu meio e necessidade.
Elio ressalta que não é um processo de alfabetização e sim de comunicação. Se não há, na prancha, um símbolo ou nome próprio que defina o que se gostaria de dizer, há a possibilidade de se formar palavras com o alfabeto.
Ele acrescenta que existe uma discussão sobre se o Bliss é linguagem ou sistema de comunicação, mas seu significado, segundo Elio é muito mais amplo, pois facilita a linguagem e viabiliza a inclusão da pessoa. "Do ponto de vista de quem está se comunicando, há uma comunicação facilitada. Há a possibilidade de se comunicar com qualquer outra pessoa, com ou sem deficiência, de qualquer lugar do mundo.
Para o coordenador, a partir do momento em que a pessoa passa a se comunicar pelo sistema Bliss ou PCS ela começa a se posicionar, negando, afirmando e opinando, conforme seus desejos. "Ela passa a ser ouvida", destaca.

A prancha como instrumento de comunicação e inclusão
Quem não possui deficiência, dificilmente se dá conta da importância da boca como instrumento de comunicação. Para aquelas pessoas que possuem dificuldade ou impossibilidade de se comunicar de forma oral, ou seja, pela palavra falada, a prancha utilizada nos sistemas Bliss e PCS representa a boca dessas pessoas. Essa é a opinião da coordenadora do setor de Fonoaudiologia da Quero-Quero, Luciana Wolff. A prancha pode ser de papelão, a mais comum, ou computadorizada. Essa permite que, por um simples movimento, o usuário selecione uma letra ou símbolo e forme palavras e frases. Essas palavras e frases podem ser enviadas para outra prancha, para o monitor de um computador ou para uma impressora. Eletrônica ou não, para Luciana, trata-se de uma ferramenta a ser utilizada em todas as situações. "É um instrumento muito acessível a todas as pessoas. E a legenda escrita facilita a comunicação com quem não precisa de símbolos ou figuras para se comunicar. São sistemas que realmente propiciam autonomia e independência a quem necessita de uma forma alternativa de comunicação", ressalta.
Para se ter idéia, sem o sistema alternativo, a pessoa que não se comunica pela forma convencional e tem a capacidade cognitiva preservada, tenta ser compreendida por gestos, olhar ou mesmo balbuciando, havendo uma maior dificuldade de expressão e compreensão alheia. Em geral, o interlocutor apela para a adivinhação, antecipando-se à pessoa, numa expressa demonstração de impaciência pelo tempo do outro que, nesse caso, é diferente de quem se comunica pela forma convencional.
Para a fonoaudióloga da AME, Carla Maria Colombo, o uso da prancha com algumas pessoas que apresentavam dificuldade de comunicação, como em casos de seqüelas de AVC (acidente vascular cerebral) foi fundamental como estímulo ao retorno da fala. "Existe uma crença ou mito que o uso da prancha atrapalha ou impede a fala, mas ao contrário, é um instrumento de estímulo e apoio para se expressar", destaca, acrescentando que todas as pessoas têm o direito de se comunicar de alguma forma e a prancha, pela simplicidade de sua estrutura, pode ser utilizada por todos.
A terapeuta ocupacional da Quero-Quero, Marisa Hirata, destaca que o acesso e domínio do conteúdo da prancha dependem do ritmo, do potencial da pessoa e do estímulo da família. "Se a pessoa só utilizar na terapia, sua evolução no processo de comunicação é mais lenta, mas se utilizar em casa, na sociedade, é mais rápida. A família pode contribuir para a evolução da comunicação da pessoa evitando induzir sua expressão ou tentando adivinhar o que a pessoa quer", explica. Ela destaca que em geral a mãe diz: "eu conheço meu filho, eu sei o que ele quer", num exercício rotineiro de adivinhação, mas a prancha faz com que a pessoa expresse exatamente seu desejo, sem dar margem para "adivinhações". "A postura de adivinhar não é adequada, porque a pessoa muitas vezes tem mais do que uma palavra ou um olhar para falar. Na prancha, a possibilidade de expressão é maior e num tempo menor do que quando há uma tentativa de adivinhação", afirma, acrescentando que o aprendizado e assimilação tanto para a pessoa como para a família são bastante simples.

Conheça a Quero-Quero
A Associação Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especial é uma entidade sem fins lucrativos que atende crianças e adolescentes com paralisia cerebral e outras deficiências neuromotoras, com o objetivo de ajudá-los a conquistarem sua independência. Também analisa casos de outras idades e diferentes distúrbios, no intuito de verificar se a instituição possui equipamentos e tecnologias adequados às necessidades dessas pessoas.
Atende em São Paulo, no bairro Sumaré a cerca de 30 pessoas e em Carapicuíba, atende outras 76. Tem como missão prestar atendimento especializado nas áreas de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Terapia Ocupacional. Oferece, ainda, programas de educação especial a pessoas com diferentes graus de comprometimento neuromotor, mas que mantenham preservada a capacidade de aprendizagem.
Seus programas de educação especial têm a intenção de incluir na sociedade aqueles que estejam impossibilitados de participarem da rede comum de ensino, seja pelo comprometimento neuromotor ou por distúrbios de aprendizagem e de comunicação. Além de oferecer suporte às famílias, também realiza cursos, palestras e seminários, como forma de estender os conhecimentos para outros profissionais, instituições e clínicas.

Serviço
Anote os dados da Quero-Quero
Rua Poconé, 720, Sumaré CEP 01254 - 040 - São Paulo-SP
Telefone e Fax: (11) 3675 - 2522
Site:
http://www.queroquero.org.br/ E-mail: queroque@uol.com.br

Ampliando o repertório de atividades em sala de aula





São Paulo-SP, 13/09/2004
Saiba como estimular os alunos com deficiência para desenvolverem seu potencial em sala de aula
Ana Cristina Fagundes Souto e Aline Gomes Medina
Daremos a você algumas dicas que poderão auxiliá-lo no processo educativo de crianças com deficiência presentes em salas regulares. As dicas que daremos são genéricas e você deverá adaptá-las de acordo com a realidade de sua sala de aula.
Como cada caso é um caso recomendamos que, se estas dicas não forem suficientes, você busque um contato com profissionais de reabilitação ou especializado em educação de crianças com deficiência para troca de idéias.
Por experiência, observamos, em muitos casos, os professores - depois de tentarem algumas alternativas com o aluno especial e as mesmas não darem certo - chegam à conclusão que a criança não tem condições de aprendizagem, o que muitas vezes não é verdadeiro.
É importante que você tente criar possibilidades a partir de sua vivência e do desempenho que você observa do aluno, trocando informações com outros profissionais que poderão auxiliá-lo na busca de novas estratégias, afinal pessoas diferentes, com diferentes formações têm diferentes pontos-de-vista, que muitas vezes podem se complementar para a implementação de uma prática que renove as formas habituais do trabalho pedagógico.
A observação do aluno inclui suas habilidades e dificuldades. Ao se deparar com a dificuldade do aluno em realizar determinada tarefa, é necessário observar o que pode estar gerando esta dificuldade e planejar uma estratégia, por exemplo:
Iago tem 5 anos e está em uma escola regular de ensino infantil. Em atividades gráficas, a professora percebeu que o aluno ultrapassa os limites da folha. Ela já havia explicado verbalmente que ele não deveria fazer isso. Após refletir sobre a situação, ela percebeu que Iago tinha dificuldade em entender as instruções verbais e decidiu utilizar um recurso concreto que complementaria esta instrução. Colocou uma moldura de lixa em volta da folha sulfite, de forma que Iago pôde começar a perceber os limites da folha, através do contraste de cor e textura e amparado pelas instruções verbais. Que deficiência ele tem? Pensamos em não colocar o tipo de deficiência justamente para estimular a professora a se desvencilhar de diagnósticos médicos e construir a observação investigativa do aluno que se apresenta.
Em todos os casos de alunos com deficiência frisamos a importância de:
* atividades integrativas, ou seja, utilização de diferentes estratégias em uma mesma atividade, para diferentes alunos;
* atividades cooperativas promovendo com isso um tipo de relação com o outro baseado não na competição, mas na capacidade de cooperar, aprender junto com os outros alunos;
* atividades acessíveis no processo educacional, permitindo o acesso de todos os alunos às tarefas, tomando o cuidado de não utilizar atividades que possam reforçar o fracasso escolar na realização de uma tarefa e que não esteja ao alcance do aluno neste momento.
Muitas vezes utiliza-se como centro do processo de aprendizagem as habilidades gráficas do aluno, porém elas não são a única forma de produção de respostas e materialização do processo de desenvolvimento neuropsicomotor e aprendizagem.
Para qualquer criança, inclusive as que têm algum tipo de deficiência, a utilização de diversos recursos sensoriais e cognitivos, tanto para instruções sobre as atividades pedagógicas, como para a produção de respostas, pode auxiliar a contemplar as diferentes formas de aprender dos diferentes alunos.
O professor está trabalhando o conceito de família e a construção da identidade de seu aluno a partir de sua família.
Ele pode solicitar que seu aluno nomeie ou escreva sobre as pessoas que compõem sua família, identificando nome, grau de parentesco, suas idades, etc. Ou o mesmo professor pode trabalhar esse conceito utilizando a identificação de figuras que retratem cenas familiares em revistas, identificação de núcleos familiares das novelas que o aluno costuma assistir, visita e entrevista com uma família do bairro em que vive, obras de arte famosas com o tema, etc. Posteriormente abordará a família específica do aluno com a construção de uma árvore genealógica onde o aluno poderá utilizar diversos materiais para confecção (cartolina, lápis de cor, folhas de árvore, fotografias de seus familiares tiradas por eles mesmos), o que identifica em comum entre si e cada um dos membros de sua família (tanto fisicamente como características de personalidade), etc.
Esta segunda opção de atividade é apenas um exemplo de como explorar ao máximo o potencial da atividade em solicitar recursos sensoriais e cognitivos diversos sobre um mesmo tema.
Caso encontre dificuldade, indicamos que procure um profissional da área de terapia ocupacional, para uma melhor análise do caso e auxiliá-la na adaptação e facilitação de atividades, bem como em atividades de cooperação e integração que tragam aprendizado dentro do que o aluno é capaz, não fugindo do conteúdo programático escolar.


Para saber mais:  Rede SACI